O texto que segue abaixo foi retirado na integra do blog Elisabeth Fritzl008
Aqui a história completa do caso que chocou o mundo em Abril deste ano. Elisabeth Fritzl, a mulher que ficou presa 24 anos em um porão, e teve 7 filhos com o próprio pai.
Como Josef Fritzl criou seu regime de terror
Elisabeth Fritzl e seus filhos, forçados a viver em um porão sem janelas por 24 anos, vegetavam como os únicos sobreviventes de um holocausto nuclear. Para eles, a especulação da Guerra Fria, sobre como seria para as pessoas que nunca poderiam retornar à superfície da Terra, era uma realidade. Aos 15 anos, Elisabeth entrou em um programa de treinamento como garçonete na parada de descanso "Rosenberger", na autobahn A1, perto de Strengberg, no leste da Áustria. Após anos de abuso, a sensação de poder sair deve ter sido libertadora. Ela e outras garotas no programa dormiam em um dormitório sob a cozinha. Pela primeira vez, ela se sentia segura longe de seu pai, longe da avidez e lascividade dele.Em 28 de janeiro de 1983, Elisabeth fugiu de casa e, juntamente com outra garota do trabalho, foi para Viena, onde morou -escondida- no 20º distrito da cidade.
Ao tentar escapar e fracassar, Elisabeth ajudou a fornecer ao seu pai a história que ele posteriormente usaria quando a levou para seu porão e a manteve aprisionada lá. Agora ela era uma fugitiva, uma rebelde, uma garota problema. No final, quem realmente se importaria quando ela desaparecesse e com o que teria acontecido com ela? O pai não tocou nela nas primeiras semanas, mas então, como ela diz hoje, começou tudo de novo. Ela decidiu suportar por mais outro ano e meio, quando seu programa de treinamento estaria concluído e ela estaria livre. Ela completou o programa em agosto de 1984 e tinha uma perspectiva de emprego na cidade de Linz, no norte da Áustria. Quando ela estava prestes a finalmente escapar dele, seu pai lhe pediu um favor. Seu pai queria que Elisabeth o ajudasse a carregar uma porta até o porão. Era 28 de agosto de 1984 e ela não mais veria o céu novamente por 24 anos.Assim que estavam no porão, ele estuprou Elisabeth e a teria algemado em uma coluna, onde foi deixada por dois dias. Posteriormente, segundo o testemunho dela, ele a prendeu com amarras pelos seis meses seguintes, talvez até nove. Seja qual for a versão verdadeira da história, ele agora a tinha totalmente para si -para sempre. Dali em diante, ele estava completamente no controle da situação no calabouço no porão, como uma espécie de deus maníaco. Elisabeth não se recorda mais com que freqüência ele a estuprava enquanto ela estava sob amarras.No mundo acima, por outro lado, ele era simplesmente o discreto sr. Fritzl, elaborando cuidadosamente suas mentiras e distrações, avaliando seus efeitos na polícia e nos órgãos de bem-estar do menor. É claro, também ajudou o fato de viver em um ambiente, na verdade em um país inteiro, que teimosamente permanece uma sociedade consensual, apesar das muitas mudanças radicais da atualidade, uma sociedade com uma tendência de evitar e encobrir disputas.
Não são esquecidas as cerca de 40 mil imagens pornográficas encontradas nos computadores de um seminário católico romano em Saint-Pölten, a oeste de Viena, incluindo pornografia infantil e imagens de padres beijando com língua seminaristas diante de uma árvore de Natal. Era um escândalo? Não para o bispo Kurt Krenn, que era encarregado da diocese de Saint-Pölten e que, antes de renunciar sob pressão do papa, apenas se sentiu compelido a comentar que a coisa toda era apenas um "trote infantil" e que "não interessava" à conferência dos bispos.Não é esquecido também o caso em 2006 de Natascha Kampusch, outro caso onde ninguém prestou atenção, ninguém sabia nada e ninguém nem mesmo alega ter suspeitado de nada. E agora um caso semelhante vem à tona de novo em um país com uma população de apenas 8,3 milhões.Se ninguém estava interessado em prestar atenção nestes casos, por que alguém prestaria atenção no que este solitário estava fazendo em Amstetten? Gertrud Ramharter, uma vizinha que vivia do outro lado da rua em Ybbsstrasse, diz que repetidamente ouvia marteladas e barulho de construção vindo da propriedade de Fritzl. Ela se perguntava o que estava acontecendo, ela diz hoje. "O que ele está construindo? Quão grande será?" E havia Alfred Dubanovsky, um dos cerca de 100 inquilinos que alugaram quartos na casa de Fritzl ao longo dos anos e que eram informados que a locação seria cancelada sem aviso prévio caso entrassem no jardim ou no porão. Dubanovsky ainda lembra das sacolas que Fritzl sempre levava para o porão.
Mas enquanto os alemães provavelmente chamariam a polícia, preferivelmente de forma anônima e freqüentemente motivados por uma antiga disputa com um vizinho, os austríacos têm a tendência de olhar para o outro lado. Dada esta mentalidade, não é exatamente surpreendente ouvir a criminologista Katharina Beclin, de Viena, dizer que dos cerca de 25 mil casos de abuso sexual que ocorrem na Áustria a cada ano, apenas cerca de 500 são informados à polícia.Um dia após o desaparecimento de Elisabeth, Rosemarie Fritzl prontamente -e de forma apropriada- notificou o desaparecimento de sua filha. Pouco tempo depois, Josef Fritzl entregou uma carta à polícia, a primeira que Elisabeth foi forçada a escrever no cativeiro, datada de 21 de setembro de 1984 e com carimbo do correio de uma cidade próxima, Braunau am Inn. Segundo a carta, ela estava cansada de viver em casa e estava na casa de uma amiga. Ela também alertou seus pais para que não a procurassem, caso contrário ela deixaria o país.carta era praticamente sob encomenda para uma rápida decisão por parte das burocracias relevantes. Atualmente, até mesmo as autoridades dos órgãos austríacos responsáveis pelo bem-estar do menor se perguntariam por que uma garota que era considerada ajustada e tímida fugiria de casa duas vezes. Mas, na época, a carta se encaixava perfeitamente ao preconceito padrão de que fugitivos são pouco mais do que crianças ingratas, que deviam pensar mais no que estavam fazendo aos seus pobres pais sofredores. As autoridades fizeram o que se esperava delas, encaminhando o boletim de criança desaparecida para o Ministério do Interior austríaco, à autoridade financeira do Estado e todas as autoridades de educação, mas era aí que o envolvimento delas no caso terminava.
Josef Fritzl ajudou a fornecer uma desculpa para as autoridades abandonarem o caso, quando disse à polícia que sua filha tinha fugido para ingressar em uma seita. Mas ninguém nem mesmo se incomodou em procurar a autoridade encarregada de seitas na diocese de Saint-Pölten, Manfred Wohlfahrt. Foi apenas questão de semanas para os investigadores aparentemente desistirem de Elisabeth Fritzl.Estuprada na presença de seus filhosNo calabouço, seu pai disse a Elisabeth que ele usaria gás contra ela caso tentasse atacá-lo ou escapar. Sempre que ele deixava o porão, ele agia como se armasse um dispositivo perto da porta, como se estivesse ativando um sistema, como Elisabeth presumia. Mas talvez não fosse nada, exceto uma tentativa de intimidá-la.Ela viveu em um quarto no porão até 1993. Fritzl aparentemente a visitava aproximadamente uma vez a cada três dias para levar comida -e estuprá-la. No início eram apenas os dois, mas posteriormente, após o nascimento de sua filha Kerstin, em 1988, e Stefan, em 1990, e Lisa, em 1992, Fritzl a estuprava na presença deles. Ele posteriormente adicionou um segundo quarto, e no mesmo ano ele criou espaço no porão para mais crianças ao levar Lisa -a menina na caixa de papelão- para cima.
Em defesa das autoridades de Amstetten, a carta que foi incluída com o bebê na caixa de papelão e que atualmente está anexada à sua documentação de adoção, era uma obra-prima de logro. "Vocês provavelmente ficarão chocados ao terem notícias minhas após todos estes anos, e ainda mais com uma verdadeira surpresa viva", escreveu Elisabeth, quase alegremente, apesar de estar escrevendo a carta de sua prisão de concreto. É claro, pelo menos um dos dois destinatários da carta não ficou chocado, já que foi quem ditou a carta. "Eu a amamentei por cerca de 6 meses e meio e agora ela bebe leite da garrafa. Ela é uma boa menina e come de tudo na colher." Era uma carta cheia de um senso de normalidade, e parecia apenas natural que Elisabeth pediria educadamente aos seus pais que nem tentassem encontrá-la. Era como se estivesse pedindo que respeitassem e tolerassem seu estilo de vida alternativo.Novamente, as autoridades ficaram suficientemente impressionadas, nem mesmo se perguntando por que Elisabeth confiaria sua filha a pais dos quais teve necessidade de fugir. Em vez disso, o órgão de bem-estar do menor de Amstetten escreveu, cinco dias depois da aparição de Lisa à porta de Fritzl: "O sr. e sra. Fritzl se recuperaram do choque inicial. A família Fritzl está cuidando amorosamente de Lisa e deseja continuar cuidando dela". Em um ano os Fritzls adotaram Lisa. Mas a criança seguinte, Monika, de nove meses de idade, surgiu em seguida, em 16 de dezembro de 1994, logo após a meia-noite. Desta vez o novo bebê não foi deixado à porta em uma caixa de papelão, mas foi encontrado no carrinho de bebê de Lisa, na entrada da casa de Fritzl. O telefone tocou poucos minutos depois, e quando Rosemarie Fritzl respondeu, ela estava convencida de que era sua filha Elisabeth do outro lado da linha, pedindo para que cuidassem de sua filha. "Eu acabei de deixá-la à sua porta", disse a pessoa que ligou.
Rosemarie Fritzl estava em choque, não apenas por sua filha aparentemente ter entrado em contato de novo. A família tinha acabado de receber um número de telefone não listado. Como Elisabeth sabia o número? Ela falou para as autoridades de Amstetten sobre o número, e como era "completamente inexplicável", e seus comentários foram anotados nos autos. Mas havia uma explicação: Josef Fritzl. Ele não apenas sabia o número, como aparentemente usou uma gravação da voz de Elisabeth para fazer a ligação.No calabouço, atrás de uma porta de metal reforçada com concreto que pesava 300 quilos, assim como uma porta de aço adicional, a vida prosseguia em seu ritmo normal: luzes acesas, luzes apagadas, luzes acesas, luzes apagadas, luzes acesas, estupro, luzes apagadas. Alexander nasceu em 1996 e, como Monika, foi enviado para cima e adotado pelos Fritzl. Seu irmão gêmeo Michael morreu logo após o parto. Elisabeth diz hoje que seu pai incinerou o corpo da criança em uma fornalha. O último filho, Felix, nasceu em 16 de dezembro de 2002. O menino teve que permanecer no calabouço com sua mãe e seus dois filhos mais velhos, Kerstin e Stefan. Sua esposa, Rosemarie, não tinha condições de cuidar de outra criança, Fritzl disse posteriormente para as autoridades durante seu interrogatório.
As quatro pessoas que foram forçadas a viver no porão sem janela por todos aqueles anos vegetavam como os únicos sobreviventes de um holocausto nuclear. Para eles, a especulação da Guerra Fria, sobre como seria para as pessoas que nunca poderiam sair novamente e voltar à superfície da Terra, era uma realidade.Eles tinham um contato com o mundo exterior -por meio de um velho aparelho de TV. Era realidade, mas para as crianças que viviam no porão de Fritzl, era como assistir a um filme. Imagens de campinas, mosquitos e do sol poderiam muito bem ser parte de alguma fantasia da Terra do Nunca, porque aquelas crianças nunca sentiram o cheiro de uma campina, sentiram a coceira de uma picada de mosquito ou o calor do sol em sua pele. E os carros, espaçonaves, celulares e sabres de luz? Aquilo tudo não era apenas ficção científica?Eles sabiam que chuva existia e que havia oceanos, mas sabiam destas coisas sem entendê-las ou experimentá-las. E apesar de Josef Fritzl não tê-los matado, ele ainda assim os privou de suas vidas.
Segundo a psiquiatra Haller, Fritzl era movido por um alto grau de narcisismo derivado de sua onipotência. Mas há também outra forma de narcisismo que poderia ser igualmente relevante neste caso. Como o narcisismo de um colecionador que compra pinturas roubadas para que possa tê-las para si mesmo, Fritzl manteve seus filhos nesta câmara. Cada vez que ia vê-los, para passar uma hora ou duas com eles, ou para levar alimentos e medicamentos à noite, ele conseguia reafirmar a exclusividade de sua propriedade, o que o tornava ainda mais sem igual.Um dos aspectos mais incompreensíveis deste caso é que as crianças que viviam na parte de cima de sua vida dupla tiveram infâncias relativamente normais. Os Fritzl aparentemente não mediam esforços para "encorajar os filhos de muitas formas", confirmou o órgão de bem-estar social local em seus relatórios regulares. Elas eram expostas a "ginástica para crianças" e "livros e fitas-cassete da biblioteca municipal", escreveram os assistentes sociais, concluindo que os Fritzls "são muito amorosos com seus filhos".Fritzl era sem dúvida rígido com seus filhos, mas não era destrutivo, talvez porque era sua esposa Rosemarie que cuidava das crianças. Quase todo dia, ela levava seus netos para suas aulas de música, onde Lisa aprendeu a tocar flauta e Monika e Alexander o trompete.
"Todos ficavam surpresos em quão forte ela era", diz um dos professores de música das crianças. Apenas em uma conversa, diz o homem, a voz dela embargou e lágrimas vieram aos olhos. Ela estava lhe contando sobre Elisabeth, sobre como tinha fugido e ingressado em uma seita, e sobre quanto sentia saudades da filha. Segundo o testemunho de Elisabeth, a mãe não sabia nada sobre seu cativeiro, nem esteve envolvida. Era apenas o pai, diz Elisabeth, quem lhe fornecia alimentos e roupas.Ganhando uma filha e perdendo um maridoA semana em que Rosemarie Fritzl se reencontrou com sua filha e perdeu seu marido começou com um choque no calabouço. Na noite de 18 de abril, a condição da filha mais velha de Elisabeth, Kerstin, 19 anos, se deteriorou rapidamente. Ela sempre foi doente, mas agora estava tendo cãibras e mordia seus lábios até sangrarem. Era uma infecção, não uma doença hereditária, mas ainda assim estava mortalmente doente. Elisabeth, a mãe, implorou que Fritzl levasse a menina a um hospital.Fritzl cedeu. Teria sido por piedade, após tantos anos de crueldade? Ou talvez pelo pânico da idéia de ter que se livrar do corpo de uma mulher adulta? Seja qual tenha sido o motivo, Fritzl foi incapaz de carregá-la sozinho e Elisabeth teve que ajudar. Foi assim que, nas primeiras horas da madrugada de 19 de abril, uma mulher de 42 anos, que passou metade de sua vida no subterrâneo, viu a luz do dia pela primeira vez em muitos anos
Foi por apenas poucos momentos antes de Elisabeth ser forçada a voltar para seu calabouço, onde ela passaria a última semana de seu cativeiro. Fritzl chamou uma ambulância. Ele teve que inventar outra história, mas desta vez não seria suficiente para salvar sua pele. O mundo acima e o mundo subterrâneo começavam a se aproximar, lentamente se tornando um, e independente de quanto Fritzl tentasse, ele não podia mais impedir o inevitável.Naquela mesma manhã, às 10h37, a polícia recebeu um telefonema do hospital público de Mostviertel-Amstetten para informar a entrada de uma "pessoa do sexo feminino" misteriosa. A paciente não apresentava resposta e estava em estado crítico, e seus sintomas sugeriam ter sido altamente negligenciada. O homem que a acompanhava era um Josef Fritzl, de Ybbsstrasse, nº 40.Fritzl, que tinha fornecido uma explicação à polícia, lhes disse que ouviu repentinamente barulhos na escada e que encontrou uma jovem apoiada, apaticamente, contra a parede no térreo. Ela carregava uma nota, Fritzl disse à polícia, na qual Elisabeth escrevia que a garota era sua filha Kerstin e que precisava urgentemente de cuidados médicos.Os médicos não sabiam ao certo qual era o problema de Kerstin. Eles especulavam que podia ser epilepsia, ou talvez outra coisa. Incapazes de determinar o que havia de errado com ela a tempo, eles precisavam de mais informação -da mãe.
A polícia lançou uma grande investigação. O caso de Elisabeth Fritzl, que ainda estava oficialmente classificada como "desaparecida", foi reaberto. Josef Fritzl repetiu sua velha história sobre a seita, e então apresentou seu às na manga de costume: uma "nova" carta de sua filha supostamente perdida. Na carta, datada de janeiro de 2008, ela escreveu que seu filho Felix tinha adoecido em setembro, e que ele tinha ataques epiléticos e sintomas de paralisia, mas se recuperou. Kerstin, dizia a carta, também teve problemas de saúde, incluindo sintomas circulatórios e dores no peito. Mas, a carta prosseguia, Elisabeth, Stefan e Felix logo estariam em casa, e talvez até poderiam comemorar aniversários com Lisa e Kerstin.A distração funcionou novamente -pela última vez- ou pelo menos deu a Fritzl mais tempo. A carta foi postada na cidade de Kematen an der Krems, a cerca de 70 quilômetros de Amstetten. Isso levou os investigadores a se concentrarem na cidade errada. Naturalmente, nenhum dos médicos que interrogaram nos arredores de Kematen tinha qualquer lembrança de uma mulher chamada Kerstin. A polícia ficou cada vez mais perplexa. Será que esta seita misteriosa existia?Na manhã de segunda-feira, 21 de abril, o telefone tocou no escritório de Manfred Wohlfahrt, a autoridade encarregada de seitas na diocese de Saint-Pölten. A presença imediata de Wohlfahrt, que não foi consultado durante 24 anos, foi requisitada na delegacia de Amstetten. A polícia lhe mostrou a primeira carta de Elisabeth e a nota que Kerstin estava carregando. As cartas ofereciam quaisquer pistas de onde a mulher que as escreveu podia estar? O estilo e escolha de palavras sugeriam uma seita?
Wohlfahrt estudou as cartas azuis, escritas manualmente de forma que pareciam caligrafia, que foram reunidas em sentenças "estranhamente homogêneas, construídas e não muito autênticas". As cartas pareciam "ditadas", disse Wohlfahrt. Sua conclusão era de que não havia nenhuma evidência de seita, uma avaliação que chegou 24 anos tarde demais para Elisabeth Fritzl.A situação começava a ficar cada vez mais difícil para Josef Fritzl. A televisão austríaca noticiou o caso. Até então, Fritzl era consistentemente caracterizado como um "pai desesperado", mas Elisabeth, em seu calabouço, também assistia a história. Ela soube que os médicos estavam à procura da mãe de Kerstin e que era uma questão de vida ou morte para a garota. No sábado, 26 de abril, Josef Fritzl, concluiu que só havia uma forma de salvar Kerstin e preservar sua história. Ele permitiu que sua filha desaparecida reaparecesse, desta vez definitivamente. Quando sua esposa Rosemarie e as outras crianças estavam fora de casa, ele retirou Elisabeth, Stefan e Felix do calabouço.A polícia ainda não sabe ao certo o que aconteceu na casa durante as poucas horas que se seguiram. Teriam novos acordos sido acertados sobre o que Elisabeth diria, como explicaria os últimos 24 anos? A polícia recebeu um chamado do hospital naquela noite, para informar que indivíduos suspeitos visitaram Kerstin. Eles correram para o hospital, chegando a tempo de pegar Josef Fritzl e Elisabeth. Ambos foram levados para a delegacia de polícia onde foram interrogados separadamente. Elisabeth só se abriu após lhe ser assegurado que nunca teria que ver seu pai de novo e que seus filhos e sua mãe seriam protegidos.No espaço de apenas duas horas, Elisabeth contou a história de seus 24 anos de cativeiro. Às 00h15, quando os oficiais completaram as três páginas de minutas do interrogatório, eles sabiam que seria o caso mais importante da vida deles.
Não é difícil imaginar como o caso terminará para Josef Fritzl, apesar de seu advogado, Rudolf Mayer, esperar que o país em breve o verá como uma pessoa e não apenas como um monstro. Agora a polícia também está examinando uma possível ligação com o corpo de uma garota encontrada no Lago Mondsee, em 1986, não longe da hospedaria de Fritzl.Mas o que ninguém pode prever é como a vida prosseguirá para Elisabeth Fritzl e seus filhos das sombras. O inspetor chefe Leopold Etz estava encarregado do esforço orquestrado para retirar Stefan e Felix da casa em Ybbsstrasse e levá-los para o hospital público. Ele diz que eles mal falam, exceto quando o pequeno Felix disse que era maravilhoso. O que era maravilhoso, o policial perguntou ao menino? Tudo, respondeu Felix.E Elisabeth Fritzl, que deve ter sido estuprada milhares de vezes, e que suportou mais do que quaisquer um dos outros? Por 8.516 dias de sua vida, dia e noite foram substituídos pelo acender e apagar de uma luz artificial. Um dia era indistinguível do outro, e a passagem do tempo era reconhecível apenas pela natureza transitória da vida: seus filhos ficando mais velhos e seu próprio cabelo se tornando grisalho até, no dia de sua libertação, estar completamente branco.É um milagre o fato de Elisabeth Fritzl não ter enlouquecido durante os 8.516 dias. "Eu raramente vejo uma mulher tão forte. Eu não me surpreenderia se ela tivesse poderes sobre-humanos", disse o diretor de medicina intensiva do hospital público de Amstetten, Albert Reiter, para o tablóide "Bild" na semana passada.
Os psicólogos estão familiarizados com o fenômeno do "inquebrável", de pessoas que são expostas a horrores impensáveis e, milagrosamente, saem aparentemente ilesas. São pessoas cujas vidas não são destruídas por uma desordem de estresse pós-traumático, que têm capacidade de se separarem dos horrores que sofreram, como se fossem espectadoras de seu próprio sofrimento.Talvez Elisabeth Fritzl será forte o suficiente para salvar sua própria família, reunindo as duas metades que seu pai separou em dois mundos, e até mesmo lidar com a suspeita de que sua mãe, Rosemarie, ou talvez alguém de sua família pudesse saber de algo. Quem, a não ser Elisabeth, poderia sair deste abismo?Testemunhas dizem que a primeira reunião da família sem Josef Fritzl, na clínica psiquiátrica em Amstetten, foi surpreendentemente alegre. Era um início -um dos muitos encontros que serão necessários após tanto tempo.
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