O escritor e jornalista Mário Prata, conta no seu livro Meus homens, minhas mulheres, a história de um casal que se divorciou por causa de um singelo rolo de papel higiênico. Explicando – o marido queria que o papel desenrolasse por baixo, e a mulher por cima. Foram anos mudando o sentido do rolo de papel higiênico. Ele colocava de um jeito e ela de outro. Até que o casamento acabou.
São às vezes pequenas diferenças que fazem com que relacionamentos que deveriam durar uma vida toda se esfacelem em pouco tempo. A estas diferenças se juntam a incompatibilidade de gênios, infidelidade, imaturidade e despreparo, violência, individualismo, ciúmes, opções erradas, falta de diálogo, e até falta de amor.
Muitos casamentos acabam por absoluta falta de amor – muitas vezes se casa por motivos interesseiros e pensa-se estar apaixonado, paixão que acaba quando surgem os primeiros problemas.
No entanto, a grande maioria dos casamentos começa a fracassar num único e importante item – a falta de amizade entre marido e mulher. Muitos ao se casarem o fazem com estranhos, com quem não tem a menor intimidade ou afinidade, e juntos vão tentar partilhar sonhos e ideais. Muitas vezes à vontade de acertar é insuficiente e logo o único caminho é o da separação. Por que a amizade é primordial em qualquer relacionamento? Às vezes não toleramos nada de ninguém, mas de um amigo toleramos e somos tolerados, o que não acontece num casamento. Uma toalha ou sapato deixados fora do lugar pelo marido é motivo de explosão de ira, ou um atraso da mulher no supermercado é o suficiente para desencadear as piores reações.
Descobre-se tardiamente que não há nenhuma comunhão de pensamentos e idéias com quem se casa, e muitas vezes o casamento só acontece por causa da atração sexual que com o tempo acaba e cai-se na perigosa rotina da mesmice.
Logo, o que deveria ser uma convivência pacifica, vai emperrando com o passar do tempo, tornando a convivência difícil e complicada. A estes fatores juntam-se a violência doméstica, o desprezo, a irascibilidade social, a introversão e igualmente a interferência de familiares, como os sogros e cunhados na relação, onde a simples colocação de um rolo de papel higiênico é motivo para desavenças e desunião.
A vida afetiva se desgasta com discussões, as brigas se tornam constantes e a vida fica insuportável. O casal já não se fala mais a não ser o necessário e não há respeito, cumplicidade, amizade. É preciso fazer uma análise e ver o que ainda há em comum, além de morar sob o mesmo teto.
Muitas vezes ambos concluem que nada mais de sadio os une e que não é mais possível melhorar a vida em comum, pois passam o tempo todo brigando ou sonhando com o afastamento, a separação, passa a ser uma opção – talvez a única.
Neste ponto muitas vezes marido e mulher tentam o diálogo que faltou ao longo do relacionamento, buscando muitas vezes algum vislumbre de esperança. Contudo, o que acontece é a evidência de que um abismo separa um do outro, e para muitos é a certeza de que a separação é inevitável. No Brasil, um em cada quatro casamentos é desfeito. Nos Estados Unidos este número é maior – onde para cada dois casamentos, há um divórcio, e após o divórcio os cônjuges tornam-se inimigos mortais, ou deixam de ser ver.
Separar-se de forma saudável, sem que um culpe o outro, manipulações ou preconceitos, não é fácil. A separação é sempre uma experiência desgastante em todos os aspectos.
Com o desgaste natural de um casamento, o desejo de separar-se quase nunca acontece de repente. Para muitos vai ficando claro com o passar dos anos, quando se percebe que não é mais importante para a vida do outro cônjuge.
Neste ponto já não há o desejo de estar juntos, já não mais sonhos em comum e muito menos à vontade de satisfazer os anseios mútuos. Às vezes pode até ser que uma das partes finja ou não perceba, que a outra parte vai dando sinais de desgaste, pois ninguém deixa de amar de uma hora para outra – a decisão da separação pode parecer súbita, porém o desejo já estava latente há muito tempo. O que um consegue ver no outro é só defeitos e mais defeitos.
Muitos homens e mulheres vão se surpreender que a atitude de separação não lhes provoca sofrimento ou constrangimento algum, ao contrário, a sensação de alívio é maior do que se pensa. E em contrapartida, á aqueles que não aceitam a separação de modo algum e sofrem como nunca. Outros se sentem culpados e rejeitados, fazendo com que a perda torne-se dolorosa, pois além de perder fisicamente o outro, perdem muitas vezes o referencial – pode parecer e é paradoxo, ter como referência alguém com quem não se vive harmoniosamente.
Para muitos casais, o casamento é uma prisão da qual eles querem se livrar o mais rápido possível, e para quem um simples problema que poderia ser resolvido no início com uma conversa, torna-se um pesadelo ao longo dos anos.
Invariavelmente uma má relação traz reflexos negativos sobre os filhos. Homens beberrões, espancadores e irresponsáveis que tratam suas mulheres e filhos com violência, e via de regra as marcas psicológicas permanecerão vida afora. Por outro lado, mulheres instáveis trazem sobre suas famílias as mesmas marcas nocivas.
Só quem vive um drama pode dizer a respeito dele, mas, quem sofre invariavelmente com a separação dos pais são os filhos. A sociedade de uns tempos para cá tem sido intolerante e o reflexo é que cada vez mais casais se separam sem ao menos tentar viver uma vida de harmonia e paz.
O refazer a vida é sempre difícil e espinhoso, principalmente quando os cônjuges têm filhos de relacionamentos anteriores, e muitos têm as suas expectativas frustradas na nova tentativa, vivenciando os mesmo problemas anteriores.
O diálogo sempre foi e sempre será a melhor saída para crises – inclusive conjugais.
Todos os direitos reservados ao autor. Copyrigth Jehozadak Pereira
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